Luís Fernando Veríssimo
Pelada é o futebol
de campinho, de terreno baldio. Mas existe um tipo
de futebol ainda mais rudimentar do que a pelada. É o futebol de rua. Perto do
futebol de rua qualquer pelada é luxo e qualquer terreno baldio é o Maracanã em
jogo noturno. Se você é homem, brasileiro e criado em cidade, sabe do que eu
estou falando. Futebol de rua é tão humilde que chama pelada
de senhora. Não sei se alguém, algum dia, por farra ou nostalgia,
botou num papel as regras do futebol de rua. Elas seriam mais ou menos
assim:
DA BOLA – A bola pode ser
qualquer coisa remotamente esférica. Até uma bola de futebol serve.
No desespero, usa-se qualquer coisa que role, como uma pedra, uma lata vazia ou
a merendeira do seu irmão menor, que sairá correndo para se
queixar em casa. No caso de se usar uma pedra, lata ou outro objeto
contundente, recomenda-se jogar de sapatos. De preferência os novos, do
colégio. Quem jogar descalço deve cuidar para chutar sempre
com aquela unha do dedão que estava precisando ser aparada mesmo. Também é
permitido o uso de frutas ou legumes em vez da bola, recomendando-se nestes
casos a laranja, a maça, o chuchu e a pêra. Desaconselha-se o
uso de tomates, melancias e, claro, ovos. O abacaxi pode ser utilizado, mas aí
ninguém quer ficar no golo.
DAS GOLEIRAS – As
goleiras podem ser feitas com, literalmente, o que estiver à mão. Tijolos,
paralelepípedos, camisas emboladas, os livros da escola, a merendeira do seu
irmão menor, e até o seu irmão menor, apesar dos seus protestos. Quando o jogo
é importante, recomenda-se o uso de latas de lixo. Cheias, para aguentarem o
impacto. A distância regulamentar entre uma goleira e outra dependerá de
discussão prévia entre os jogadores. Às vezes
esta discussão demora
tanto que quando a distância fica acertada está na hora de ir jantar. Lata de
lixo virada é meio golo.
DO CAMPO – O campo pode
ser só até o fio da calçada, calçada e rua, calçada, rua e a calçada do outro
lado e – nos clássicos – o quarteirão inteiro. O mais comum é jogar-se só no
meio da rua.
DA DURAÇÃO DO JOGO – Até
a mãe chamar ou escurecer, o que vier primeiro. Nos jogos noturnos, até alguém
da vizinhança ameaçar chamar a polícia.
DA FORMAÇÃO DOS TIMES – O número de jogadores em cada equipe varia, de um a 70 para cada lado. Algumas convenções devem ser respeitadas. Ruim vai para o golo. Perneta joga na ponta, aesquerda ou a direita dependendo da perna que faltar. De óculos é meia-armador, para evitar os choques. Gordo é beque.
DA FORMAÇÃO DOS TIMES – O número de jogadores em cada equipe varia, de um a 70 para cada lado. Algumas convenções devem ser respeitadas. Ruim vai para o golo. Perneta joga na ponta, aesquerda ou a direita dependendo da perna que faltar. De óculos é meia-armador, para evitar os choques. Gordo é beque.
DO JUIZ – Não tem
juiz.
DAS INTERRUPÇÕES – No
futebol de rua, a partida só pode ser paralisada numa destas eventualidades:
a) Se a bola for para
baixo de um carro estacionado e ninguém conseguir tirá-la. Mande o seu irmão
menor.
b) Se a bola entrar por
uma janela. Neste caso os jogadores devem esperar não mais de 10 minutos pela
devolução voluntária da bola. Se isto não ocorrer, os jogadores devem designar voluntários
para bater na porta da casa ou apartamento e solicitar a devolução, primeiro
com bons modos e depois com ameaças de depredação. Se o apartamento ou casa for
de militar reformado com cachorro, deve-se providenciar outra bola. Se a
janela atravessada pela bola estiver com o vidro fechado na
ocasião, os dois times devem reunir-se rapidamente para deliberar o que fazer.
A alguns quarteirões de distância.
c) Quando passarem pela
calçada:
1) Pessoas idosas ou com
defeitos físicos.
2)Senhoras grávidas ou
com crianças de colo.
3) Aquele mulherão do 701
que nunca usa sutiã.
Se o jogo estiver empate
em 20 a 20 e quase no fim, esta regra pode ser ignorada e se alguém estiver no
caminho do time atacante, azar. Ninguém
mandou invadir o
campo.
d) Quando passarem
veículos pesados pela rua. De ônibus para cima. Bicicletas e Volkswagen, por
exemplo, podem ser chutados junto com a bola e se entrar é golo.
DAS SUBSTITUIÇÕES – Só
são permitidas substituições:
a) No caso de um jogador
ser carregado para casa pela orelha para fazer a lição. b) Em caso de
atropelamento.
DO INTERVALO PARA
DESCANSO – Você deve estar brincando.
DA TÁTICA – Joga-se o futebol de rua mais ou menos como o Futebol de Verdade (que é como, na rua, com reverência, chamam a pelada ), mas com algumas importantes variações. O goleiro só é intocável dentro da sua casa, para onde fugiu gritando por socorro. É permitido entrar na área adversária tabelando com uma Kombi. Se a bola dobrar a esquina é córner.
DAS PENALIDADES – A única falta prevista nas regras do futebol de rua é atirar um adversário dentro do bueiro. É considerada atitude antiesportiva e punida com tiro indireto.
DA TÁTICA – Joga-se o futebol de rua mais ou menos como o Futebol de Verdade (que é como, na rua, com reverência, chamam a pelada ), mas com algumas importantes variações. O goleiro só é intocável dentro da sua casa, para onde fugiu gritando por socorro. É permitido entrar na área adversária tabelando com uma Kombi. Se a bola dobrar a esquina é córner.
DAS PENALIDADES – A única falta prevista nas regras do futebol de rua é atirar um adversário dentro do bueiro. É considerada atitude antiesportiva e punida com tiro indireto.
DA JUSTIÇA ESPORTIVA – Os
casos de litígio serão resolvidos no tapa.
____________________________________________________________
2) Encontre, no texto, palavras que sejam sinônimas de:
a) Esquema, plano: ____________________________________
b) Castigada: ___________________________
c) Escolher,
nomear: ____________________
3) Quais são, segundo o
texto, as convenções que devem ser respeitadas quando são formados os times
para o futebol de rua?
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
4) Quais são as quatro eventualidades que podem paralisar a partida?
4) Quais são as quatro eventualidades que podem paralisar a partida?
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
5) Quando serão
permitidas as substituições?
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
6) Explique o que o autor
quis dizer com a frase “DO INTERVALO PARA DESCANSO – Você deve estar
brincando.”
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
7) Explique o que
significa a expressão “atitude antiesportiva”. (penúltimo parágrafo do
texto)
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
8) Qual é a atitude
antiesportiva citada no texto?
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
9) “Os casos de litígio
serão resolvidos no tapa”. O que significa isso?
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
10) Quando se deve providenciar
outra bola?
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Pós-leitura:
1-
O
texto inicia com a seguinte frase: “Não sei se alguém, algum dia, por farra ou
nostalgia, botou num papel as regras do futebol de rua.”
a)
Sublinhe,
nesta frase, quais são os dois motivos pelos quais, de acordo com o narrador,
alguém colocaria as regras do futebol de rua no papel.
b)
Com
a ajuda do dicionário, explique o que são esses motivos.
2-
O
narrador diz-nos que a bola pode ser qualquer coisa remotamente esférica. Explique, com suas palavras, o significado da
palavra sublinhada, relacionando-o com o texto.
3-
Dê
exemplos de coisas que podem ser usadas como bola, de acordo com o texto.
Escolha um desses objetos e desenhe uma cena em que ele sirva como bola de
futebol de rua.
5-
Por
que o narrador não recomenda o uso de tomates, melancias e ovos?
6-
Por
que ninguém gostaria de ficar no gol se a bola fosse um abacaxi?
7-
Complete
as lacunas, indicando o que aconteceria, de acordo com o narrador:
a) Se
você usar a merendeira do seu irmão menor,
ele.....................................................
b) Se
você usar o seu irmão menor como goleira,
ele......................................................
c) Se
você não usar sapatos ao usar como bola um objeto contundente,
......................
......................................................................................................................................
d) Se
você demorar muito para discutir a distância entre uma goleira e outra,
...........
......................................................................................................................................
e)
Se
você usar latas de lixo vazias, elas.....................................................................
8-
Quais
são os dois fatos que podem fazer com que o jogo acabe?
9-
Por
que, em jogos noturnos, os vizinhos podem chamar a polícia?
Atividade de produção textual:
I)
Você
viu, até aqui, algumas regras do futebol de rua envolvendo a bola, as goleiras,
o campo e a duração do jogo. Continue as regras criando:
a)
DA
FORMAÇÃO DOS TIMES:
b)
DO
JUIZ:
c)
DAS
INTERRUPÇÕES:
d)
DAS
SUBSTITUIÇÕES:
e)
DO
INTERVALO PARA DESCANSO:
f)
DA
TÁTICA:
g)
DAS
PENALIDADES:
h)
DA
JUSTIÇA ESPORTIVA:
TEXTO 2:
POEMA:
"GOL", DE FERREIRA GULLAR.
Respirando o clima de Copa do Mundo, Literatura se faz em forma de
gol, o grande momento desta paixão nacional brasileira. Brilhantemente poetizado
pelo Ganhador do PRÊMIO Camões
2010. o escritor Ferreira Gullar nunca se eximiu de seu encantamento pelo
esporte bretão e, dedicou um de seus poemas, dentre muito dos
quais o futebol se fez fonte, decrevendo a habilidade de Pelé no sublime
momento do gol, para delirio e comoção da "pátria das
chuteiras", como bem metaforizou Nelson Rodrigues.
"A esfera desce
do espaço
veloz
ele a apara
no peito
e a pára
no ar
depois
com o joelho
a dispõe a meia altura
onde
iluminada
a esfera
espera
o chute que
num relâmpago
a dispara
na direção
do nosso
coração".
É ou não é tão genial quanto um gol de Pelé esse poema?
texto 3:
O mistério do futebol
* Luis Fernando Veríssimo –
Jornalista e escritor
"O prazer de acertar um chute no ângulo da goleira.
Qualquer goleira. O que pode se comparar, na experiência humana? Ou na
experiência humana de um brasileiro?"
Começa quando a gente é criança. Quando
qualquer coisa - até o corredor da casa - é um campo de futebol e qualquer
coisa vagamente esférica é a bola. Se é genético, não se sabe. Um brasileiro
criado na selva por chimpanzés, quando se pusesse de pé, começaria a fazer
embaixadas com frutas, mesmo sem saber o que estava fazendo? Não se sabe.
Nenhum prazer que
teremos na vida depois, incluindo a primeira transa, se iguala ao prazer da
primeira bola de verdade. Autobiografia: sou do tempo da bola de couro com cor
de couro. A oficial, número 5. Ganhei a minha primeira com cinco ou seis anos.
Ainda me lembro do cheiro. Depois de ganhá-la, você ficava num dilema: levá-la
para a calçada e começar a chutá-la, ou preservar o seu couro reluzente? Uma bola futebol de verdade era uma coisa tão
preciosa que se hesitava em estragá-la com o futebol.
Futebol de calçada.
O tamanho dos times variava. De um para cada lado a 14 ou 15 para cada
lado. Duração das partidas: até
escurecer ou a vizinhança reclamar, o que acontecesse primeiro.
Nada interrompia
as partidas. Ninguém saía. Joelho ralado, a mãe via depois. Gente passando na
calçada que se cuidasse. Só se respeitava velhinha, deficiente físico e, vá lá,
grávida. Os outros não estavam livres de ser atropelados. Quem mandara invadir
nosso campo?
Comparado com calçada, terreno baldio era
estádio. E terreno baldio com goleiras, então, era Maracanã. As goleiras podiam
ser feitas com sarrafos ou galhos de árvore. Não importava, eram goleiras. Um luxo antes inimaginável.
O prazer de acertar um chute no ângulo da
goleira. Qualquer goleira. O que pode se comparar, na experiência humana? Ou na
experiência humana de um brasileiro?
Todos estes prazeres passam - com o tempo e
as obrigações, com a vida séria, com a barriga - mas o amor pelo nosso time continua.
Confiamos ao nosso time a tarefa de continuar nossa infância por nós.
Passamos-lhe a guarda dos nossos prazeres com a bola. A relação com o nosso
time é a única das nossas relações infantis que perdura, tão intensa e
irracional quanto antes. Ou mais.
De onde vem
isso? Que tipo de amor é esse? Um
mistério. Dizem que no fundo é uma necessidade de guerra. De ter uma bandeira,
ser uma nação e arrasar outras nações, nem que seja metaforicamente. Psicologia
fácil. Não explica por que a pequena torcida do Atlético Cafundó, que nunca arrasará ninguém, continua torcendo
pelo seu time. Talvez o que a gentame no futebol seja o nosso amor pelo
futebol. Isso que nos faz diferentes dos outros, que amam o futebol mas não
tanto, não tão brasileiramente.
Ou talvez o que a gente ame seja justamente o mistério.
AGORA É A SUA VEZ!
A 1ª proposta de produção de texto para o grupo de estudo:
Escreva uma crônica sobre futebol.Você deverá seguir as seguintes
instruções:
-Escreva
o seu texto, a partir de uma situação corriqueira, como um grupo de crianças
brincando de futebol na rua,onde uma faz um gol. Você pode ampliar a
narrativa construída pelo poeta, acrescentando ao texto
outros elementos da narrativa e não se esqueça de que o seu
texto deverá apresentar outra estrutura, já que a proposta é construir uma
Crônica Narrativa.
Mantenha a mesma pessoa do discurso (3ª pessoa) e escreva
um texto com, no máximo, 25 linhas.
TEXTO 4:
Sermão da planície
Sermão da planície
(para não ser escutado)
.
Bem-aventurados os que não entendem nem aspiram a entender
de futebol, pois deles é o reino da tranqüilidade.
Bem-aventurados os que, por entenderem de futebol, não se
expõem ao risco de assistir às partidas, pois não voltam com decepção ou
enfarte.
Bem-aventurados os que não têm paixão clubista, pois não
sofrem de janeiro a janeiro, com apenas umas colherinhas de alegria a título de
bálsamo, ou nem isto.
Bem-aventurados os que não escalam, pois não terão suas mães
agravadas, seu sexo contestado e sua integridade física ameaçada, ao sairem do
estádio.
Bem-aventurados os que não são escalados, pois escapam de
vaias, preojéteis, contusões, fraturas, e mesmo da glória precária de um dia.
Bem-aventurados os que não são cronistas esportivos, pois
não carecem de explicar o inexplicável e racionalizar a loucura.
Bem-aventurados os fotógrafos que trocaram a documentação do
esporte pela dos desfiles de modas, pois não precisam gastar tempo infindável
para fotografar o relâmpago de um gol.
Bem-aventurados os fabricantes de bolas e chuteiras, que não
recebem as primeiras na cara e as segundas na virilha, como os atletas e os
assistentes ocasionais de peladas.
Bem-aventurados os que não conseguiram comprar televisão a
cores a tempo de acompanhar a Copa do Mundo, pois, assistindo pelo aparelho do
vizinho, sofrem sem pagar vinte prestações pelo sofrimento.
Bem-aventurados os surdos, pois não os atinge o estrondar
das bombas da vitória, que fabricam outros surdos, nem o matraquear dos
locutores, carentes de exorcismo.
Bem-aventurados os que não moram em ruas de torcida
institucionalizada, ou em suas imediações, pois só recolhem cinqüenta por cento
do barulho preparatório ou comemoratório.
Bem-aventurados os cegos, pois lhes é poupado torturar-se
com o espetáculo direto ou televisionado da marcação cerrada, que paralisa os
campeões, ou do lance imprevisível, que lhes destrói a invencibilidade.
Bem-aventurados os que nasceram, viveram e se foram antes de
1863, quando se codificaram as leis do futebol, pois escaparam dos tormentos da
torcida, inclusive dos ataques cardíacos infligidos tanto pela derrota como
pela vitória do time bem-amado.
Bem-aventurados os que, entre a bola e o botão, se contentam
com este, principalmente em camisa, pois se consolam mais facilmente de perder
o botão da roupa do que o bicho da vitória.
Bem-aventurados os que, na hora da partida internacional,
conseguem ouvir a sonata de Albinoni, pois destes é o reino dos céus.
Bem-aventurados os que não confundem a derrota do time da
Lapônia pelo time da Terra do Fogo com a vitória nacional da Terra do Fogo
sobre a Lapônia, pois a estes não visita o sentimento de guerra.
Bem-aventurados os que, depois de escutar este sermão,
aplicarem todo o ardor infantil no peito maduro para desejar a vitória do
selecionado brasileiro nesta e em todas as futuras Copas do Mundo, como faz o
velho sermoneiro desencantado, mas torcedor assim mesmo, pois para o diabo vá a
razão quando o futebol invade o coração.
.
Carlos Drummond de Andrade
TEXTO 5:
O Juiz Ladrão (por Nelson Rodrigues)
De vez em quando, eu esbarro num saudosista. É um sujeito esplêndido, que vive
enfiado no passado. Direi mais: — vive feliz e realizado no passado como um
peixinho num aquário de sala de visitas. E convenhamos que isto é bonito, é
lindo. Outro dia, um deles atracou-se comigo no meio da rua; arrastou-me para o
fundo de um café, e, lá, com o olho rútilo e o lábio trêmulo, pôs-se a falar de
Marcos de Mendonça, o “Fitinha Roxa”; da “espanhola”; do assassinato de
Pinheiro Machado e do campeonato que o Botafogo tirou em 1910. Mas, nos vinte
minutos da conversa retrospectiva, já lhe pendia do beiço uma grossa, uma
espuma bovina, uma baba elástica. De mim para mim, compreendi essa nostalgia,
louvei essa fidelidade ao passado. Amigos, eis uma verdade eterna: — o passado
sempre tem razão.
Por exemplo: — o futebol antigo. Era, a meu ver, um fenômeno vital muito mais rico, complexo e intrincado. Hoje, os jogadores, os juizes e os bandeirinhas se parecem entre si como soldadinhos de chumbo. Não encontramos, em ninguém, uma dessemelhança forte, crespa e taxativa. Não há um craque, um árbitro ou um bandeirinha que se imponha como um símbolo humano definitivo. Outrora havia o “juiz ladrão”. E hoje? Hoje, os juizes são de uma chata, monótona e alvar honestidade. Abra-hão Lincoln não seria mais íntegro do que Mário Vianna. E vamos e venhamos: — a virtude pode ser muito bonita, mas exala um tédio homicida e, além disso, causa as úlceras imortais. Não acredito em honestidade sem acidez, sem dieta e sem úlcera.
Mas ponha-se um árbitro insubornável diante de um vigarista. E verificaremos isto: — falta ao virtuoso a feérica, a irisada, a multicolorida variedade do vigarista. O profissionalismo torna inexeqüível o juiz ladrão. E é pena. Porque seu desaparecimento é um desfalque lírico, um desfalque dramático para os jogos modernos. Vejam vocês que coisa melancólica e deprimente: — um jogo de futebol tem 22 homens. Com o juiz e os bandeirinhas, 25. Acrescentem-se os gandulas e já teremos um total de 29. Vinte e nove homens e nem um único e escasso canalha, nem um único e escasso vigarista! Eis a verdade, que levaria um Balzac ao desespero e à úlcera: — as condições do futebol contemporâneo tornam impraticável a existência do canalha. Ou por outra: — o canalha pode existir, mas contido, frustrado, inédito, sem função e sem destino.
Mas em 1918, 17 ou 16, os gatunos constituíam uma briosa fauna, uma luxuriante flora. Evidentemente, havia as exceções. Mas os salafrários podiam apitar as partidas e com que glorioso, com que genial descaro! Certa vez, foi até interessante: — existia um juiz que era um canalha em estado de pureza, de graça, de autenticidade. Um domingo, ele vai apitar um jogo decisivo. Que fazem os adversários? Tentam suborná-lo. Ora, o canalha é sempre um cordial, um ameno, um amorável. E o homem optou pela solução mais equânime: — levou bola dos dois lados. Justiça se lhe faça: — roubou da maneira mais desenfreada e imparcial os dois quadros. Ao soar o apito final, os 22 jogadores partiram para cima do ladrão. Mas o gângster já se antecipara, já estava pulando muros e galinheiros. Era uma figurinha elástica, acrobática e alada. Isto foi em 1917. O juiz gatuno está correndo até hoje.
Por exemplo: — o futebol antigo. Era, a meu ver, um fenômeno vital muito mais rico, complexo e intrincado. Hoje, os jogadores, os juizes e os bandeirinhas se parecem entre si como soldadinhos de chumbo. Não encontramos, em ninguém, uma dessemelhança forte, crespa e taxativa. Não há um craque, um árbitro ou um bandeirinha que se imponha como um símbolo humano definitivo. Outrora havia o “juiz ladrão”. E hoje? Hoje, os juizes são de uma chata, monótona e alvar honestidade. Abra-hão Lincoln não seria mais íntegro do que Mário Vianna. E vamos e venhamos: — a virtude pode ser muito bonita, mas exala um tédio homicida e, além disso, causa as úlceras imortais. Não acredito em honestidade sem acidez, sem dieta e sem úlcera.
Mas ponha-se um árbitro insubornável diante de um vigarista. E verificaremos isto: — falta ao virtuoso a feérica, a irisada, a multicolorida variedade do vigarista. O profissionalismo torna inexeqüível o juiz ladrão. E é pena. Porque seu desaparecimento é um desfalque lírico, um desfalque dramático para os jogos modernos. Vejam vocês que coisa melancólica e deprimente: — um jogo de futebol tem 22 homens. Com o juiz e os bandeirinhas, 25. Acrescentem-se os gandulas e já teremos um total de 29. Vinte e nove homens e nem um único e escasso canalha, nem um único e escasso vigarista! Eis a verdade, que levaria um Balzac ao desespero e à úlcera: — as condições do futebol contemporâneo tornam impraticável a existência do canalha. Ou por outra: — o canalha pode existir, mas contido, frustrado, inédito, sem função e sem destino.
Mas em 1918, 17 ou 16, os gatunos constituíam uma briosa fauna, uma luxuriante flora. Evidentemente, havia as exceções. Mas os salafrários podiam apitar as partidas e com que glorioso, com que genial descaro! Certa vez, foi até interessante: — existia um juiz que era um canalha em estado de pureza, de graça, de autenticidade. Um domingo, ele vai apitar um jogo decisivo. Que fazem os adversários? Tentam suborná-lo. Ora, o canalha é sempre um cordial, um ameno, um amorável. E o homem optou pela solução mais equânime: — levou bola dos dois lados. Justiça se lhe faça: — roubou da maneira mais desenfreada e imparcial os dois quadros. Ao soar o apito final, os 22 jogadores partiram para cima do ladrão. Mas o gângster já se antecipara, já estava pulando muros e galinheiros. Era uma figurinha elástica, acrobática e alada. Isto foi em 1917. O juiz gatuno está correndo até hoje.
TEXTO 6:
Descoberta de Garrincha
por Nelson Rodrigues
E eis que, pela primeira vez, um “seu” Manuel é o meu personagem da semana. Com esse nome cordial e alegre de anedota, ele tomou conta da cidade, do Brasil e, mais do que isso, da Europa. Creiam, amigos: o jogo Brasil x Rússia* acabou nos três minutos iniciais. Insisto: nos primeiros três minutos da batalha, já o “seu” Manuel, já o Garrincha, tinha derrotado a colossal Rússia, com a Sibéria e tudo o mais. E notem: bastava ao Brasil um empate. Mas o meu personagem não acredita em empate e se disparou pelo campo adversário, como um tiro. Foi driblando um, driblando outro e consta inclusive que, na sua penetração fantástica, driblou até as barbas de Rasputin.
Amigos:
a desintegração da defesa russa começou exatamente na primeira vez em que
Garrincha tocou na bola. Eu imagino o espanto imenso dos russos diante desse
garoto de pernas tortas, que vinha subverter todas as concepções do futebol
europeu. Como marcar o imarcável? Como apalpar o impalpável? Na sua indignação
impotente, o adversário olhava Garrincha, as pernas tortas de Garrincha e
concluía: — “Isso não existe!”. E eu, como os russos, já me inclino a acreditar
que, de fato, domingo Garrincha não existiu. Foi para o público internacional
uma experiência inédita. Realmente, jamais se viu, num jogo de tamanha
responsabilidade, um time, ou melhor, um jogador começar a partida com um
baile. Repito: — baile, sim, baile! E o que dramatiza o fato é que foi baile
não contra um perna-de-pau, mas contra o time poderosíssimo da Rússia.
Só
um Garrincha poderia fazer isso. Porque Garrincha não acredita em ninguém e só
acredita em si mesmo. Se tivesse jogado contra a Inglaterra, ele não teria dado
a menor pelota para a rainha Vitória, o lord Nelson e a tradição naval do
adversário. Absolutamente. Para ele, Pau Grande, que é a terra onde nasceu,
vale mais do que toda a Comunidade Britânica. Com esse estado de alma,
plantou-se na sua ponta para enfrentar os russos. Os outros brasileiros
poderiam tremer. Ele não e jamais. Perante a plateia internacional, era quase um
menino. Tinha essa humilhante sanidade mental do garoto que caça cambaxirra com
espingarda de chumbo e que, em Pau Grande, na sua cordialidade indiscriminada,
cumprimenta até cachorro. Antes de começar o jogo, o seu marcador havia de
olhá-lo e comentar para si mesmo, em russo: “Esse não dá pra saída!”. E, com
dois minutos e meio, tínhamos enfiado na Rússia duas bolas na trave e um gol.
Aqui, em toda a extensão do território nacional, começávamos a desconfiar que é
bom, que é gostoso ser brasileiro.
Está
claro que não estou subestimando o peito dos outros jogadores brasileiros. Deus
me livre. Por exemplo: cada gol de Vavá era um hino nacional. Na defesa,
Bellini chutava até a bola. E quando, no segundo tempo, Garrincha resolveu
caprichar no baile, foi um carnaval sublime. A coisa virou show de Grande
Otelo. E tem razão um amigo que, ouvindo o rádio, ao meu lado, sopra-me: “Isso
que o Garrincha está fazendo é pior do que xingar a mãe!”. Calculo que, a essa
altura, as cinzas do czar haviam de estar humilhadíssimas. O marcador do “seu”
Manuel já não era um: eram três. E, então, começou a se ouvir, aqui no Brasil,
na praça da Bandeira, a gargalhada cósmica, tremenda, do público sueco. Cada
vez que Garrincha passava por um, o público vinha abaixo. Mas não creiam que
ele fizesse isso por mal. De modo algum. Garrincha estava ali com a mesma
boa-fé inefável com que, em Pau Grande, vai chumbando as cambaxirras, os
pardais. Via nos russos a inocência dos passarinhos. Sim: os adversários eram
outros tantos passarinhos, desterrados de Pau Grande.
Calculo que, lá pelas tantas, os russos, na sua raiva obtusa e inofensiva, haviam de imaginar que o único meio de destruir Garrincha era caçá-lo a pauladas. De fato, domingo, só a pauladas e talvez nem isso, amigos, talvez nem assim.
Calculo que, lá pelas tantas, os russos, na sua raiva obtusa e inofensiva, haviam de imaginar que o único meio de destruir Garrincha era caçá-lo a pauladas. De fato, domingo, só a pauladas e talvez nem isso, amigos, talvez nem assim.
*
Brasil 2 x 0 União Soviética, 15/6/1958, em Gotemburgo (Suécia)
TEXTO 7:
Armando Nogueira, futebol e eu, coitada
Armando Nogueira, futebol e eu, coitada
por Clarice Lispector
Jornal
do Brasil, 30.03.1968
E
o título sairia muito maior, só que não caberia numa única linha. Não leio
todos os dias Armando Nogueira – embora todos os dias dê pelo menos uma espiada
rápida – porque “meu futebol” não dá para entender tudo. Se bem que Armando
escreve tão bonito (não digo apenas “bem”), que às vezes, atrapalhada com a
parte técnica de sua crônica, leio só pelo bonito. E deve ser numa das crônicas
que me escaparam que saiu uma frase citada pelo Correio da Manhã,
entre frases de Robert Kennedy, Fernandel, Arthur Schlesinger, Geraldine
Chaplin, Tristão de Athayde e vários outros, e que me leram, por telefone.
Armando dizia: “De bom grado eu trocaria a vitória de meu time num grande jogo
por uma crônica...” e aí vem o surpreendente: continua dizendo que trocaria
tudo isso por uma crônica minha sobre futebol.
Meu
primeiro impulso foi o de uma vingança carinhosa: dizer aqui que trocaria muita
coisa que me vale muito por uma crônica de Armando Nogueira sobre, digamos, a
vida. Aliás, meu primeiro impulso, já sem vingança, continua: desafio você,
Armando Nogueira, a perder o pudor e escrever sobre a vida e você mesmo, o que
significaria a mesma coisa.
Mas,
se seu time é Botafogo, não posso perdoar que você trocasse, mesmo por
brincadeira, uma vitória dele nem por um meu romance inteiro sobre futebol.
Deixe
eu lhe contar minhas relações com futebol, que justificam o coitada do
título. Sou Botafogo, o que já começa por ser um pequeno drama que não torno
maior porque sempre procuro reter, como as rédeas de um cavalo, minha tendência
ao excessivo. É o seguinte: não me é fácil tomar partido em futebol – mas como
poderia eu me isentar a tal ponto da vida do Brasil? – porque tenho um filho
Botafogo e outro Flamengo. E sinto que estou traindo o filho Flamengo. Embora a
culpa não seja toda minha, e aí vem uma queixa contra meu filho: ele também era
Botafogo, e sem mais nem menos, talvez só para agradar o pai, resolveu um dia
passar para o Flamengo. Já então era tarde demais para eu resolver, mesmo com
esforço, não ser de nenhum partido: eu tinha me dado toda ao Botafogo,
inclusive dado a ele minha ignorância apaixonada por futebol. Digo “ignorância
apaixonada” porque sinto que eu poderia vir um dia apaixonadamente a entender
de futebol.
E
agora vou contar o pior: fora as vezes que vi por televisão, só assisti a um
jogo de futebol na vida, quero dizer, de corpo presente. Sinto que isso é tão
errado como se eu fosse uma brasileira errada.
O
jogo qual era? Sei que era Botafogo, mas não me lembro contra quem. Quem estava
comigo não despregava os olhos do campo, como eu, mas entendia tudo. E eu de
vez em quando, mesmo sentindo que estava incomodando, não me continha e fazia
perguntas. As quais eram respondidas com a maior pressa e resumo para eu não
continuar a interromper.
Não,
não imagine que vou dizer que futebol é um verdadeiro balé. Lembrou-me foi uma
luta entre vida e morte, como de gladiadores. E eu – provavelmente coitada de
novo – tinha a impressão de que a luta só não saía das regras do jogo e se
tornava sangrenta porque um juiz vigiava, não deixava, e mandaria para fora de
campo quem como eu faria, se jogasse (!). Bem, por mais amor que eu tivesse por
futebol, jamais me ocorreria jogar...Ia preferir balé mesmo. Mas futebol
parecer-se com balé? O futebol tem uma beleza própria dos movimentos que não
precisa de comparações.
Quanto
a assistir por televisão, meu filho botafoguense assiste comigo. E quando faço
perguntas, provavelmente bem tolas como leiga que sou, ele responde com uma
mistura de impaciência piedosa que se transforma depois em paciência quase mal
controlada, e alguma ternura pela mãe que, se sabe outras coisas, é obrigada a
valer-se do filho para essas lições. Também ele responde bem rápido, para não
perder os lances do jogo. E se continuo de vez em quando a perguntar, termina
dizendo embora sem cólera: ah, mamãe, você não entende mesmo disso, não
adianta.
O
que me humilha. Então, na minha avidez por participar de tudo, logo de futebol
que é Brasil, eu não vou entender jamais? E quando penso em tudo no que não
participo, Brasil ou não, fico desanimada com minha pequenez. Sou muito
ambiciosa e voraz para admitir com tranqüilidade uma não participação do que
representa vida. Mas sinto que não desisti. Quanto a futebol, um dia entenderei
mais. Nem que seja, se eu viver até lá, quando eu for velhinha e já andando
devagar. Ou você acha que não vale a pena ser uma velhinha dessas modernas que
tantas vezes, por puro preconceito imperdoável nosso, chega à beira do ridículo
por se interessar pelo que já devia ser um passado? É que, e não só em futebol,
porém em muitas coisas mais, eu não queria só ter um passado: queria sempre
estar tendo um presente, e alguma partezinha do futuro.
E
agora repito meu desafio amigável: escreva sobre a vida, o que significaria
você na vida. (Se não fosse cronista de futebol, você de qualquer modo seria
escritor.) Não importa que, nessa coluna que peço, você inicie pela porta do
futebol: facilitaria você quebrar o pudor de falar diretamente. E mais, para
facilitar: deixo você escrever uma crônica inteira sobre o que o
futebol significa para você, pessoalmente, e não só como esporte, o que
terminaria revelando o que você sente em relação à vida.
O
tema é geral demais, para quem está habituado a uma especialização? Mas é que
me parece que você não conhece suas próprias habilidades: seu modo de escrever
me garante que você poderia escrever sobre inúmeras coisas. Avise-me quando
você resolver responder a meu desafio, pois, como lhe disse, não é todos os
dias que leio você, apesar de ter um verdadeiro gosto em ser sua colega no
mesmo jornal. Estou esperando.
TEXTO 8:
BIOGRAFIA: Garrincha
|
Garrincha marcou
seu nome na história do futebol brasileiro com o apelido de "alegria do
povo". Foi o legítimo representante do futebol-arte brasileiro, com seu
estilo original de jogar, com seus dribles abusados e com suas jogadas
divertidas.
Manoel Francisco dos Santos, o "Mané", pertencia a uma família pobre de 15 irmãos. O apelido Garrincha veio de um tipo de pássaro, comum na região serrana, que Mané gostava de caçar com seu bodoque.
Na cidade onde nasceu, no Estado do Rio de Janeiro, havia uma fábrica de tecidos de propriedade de um grupo inglês que mantinha um time de futebol amador, o Pau Grande Esporte Clube. Aos 15 anos, Mané começou a trabalhar na fábrica, e não demorou a treinar no time, mas não teve chance de jogar logo porque, além da sua pouca idade, o técnico Carlos Pinto temia expor o garoto aos fortes zagueiros dos times adversários.
Cansado de não ter uma chance de jogar, Mané registrou-se no time Serrano, da cidade vizinha de Petrópolis e jogou durante quase um ano. Depois disso, o técnico Carlos Pinto decidiu dar uma chance ao Mané e, com sua entrada na ponta direita, o time do Pau Grande cresceu.
Depois de algum tempo, Garrincha foi tentar a sorte em algum clube da capital. Procurou o Flamengo, o Fluminense e o Vasco, mas com suas pernas tortas, não lhe deram atenção.
Garrincha ficou desiludido, até o dia que foi convidado para fazer um teste no Botafogo e encantou a equipe, para surpresa do técnico Gentil Cardoso.Fez parte do melhor time do Botafogo de todos os tempos, que contava com Zagalo, Didi, Amarildo e Nilton Santos, entre outros. Sua melhor jogada era o drible para a direita, o arranque e o cruzamento para a área. Mesmo com uma diferença de 6 cm que separava seus joelhos, sempre levava vantagem sobre o marcador.
Em 1962, quando começou o romance com a cantora Elza Soares, Garrincha já tinha sete filhas com Nair, sua mulher; um casal de filhos com Iraci, sua amante e um filho sueco concebido em junho de 1959. Além destes, teve uma oitava filha com Nair, um filho com Elza e mais uma filha com Vanderléa, sua última mulher, totalizando 13 filhos.
Jogou 60 partidas pela seleção brasileira e encantou a todos em três Copas do Mundo: da Suécia (1958) e do Chile (1962), das quais o Brasil foi campeão, e da Inglaterra (1966). Com Garrincha, o Brasil obteve 52 vitórias e sete empates.
No final da carreira, jogou também no Corinthians, no Flamengo, no Olaria e em outros times brasileiros e estrangeiros. Morreu em decorrência da cirrose hepática, em 1983.
Manoel Francisco dos Santos, o "Mané", pertencia a uma família pobre de 15 irmãos. O apelido Garrincha veio de um tipo de pássaro, comum na região serrana, que Mané gostava de caçar com seu bodoque.
Na cidade onde nasceu, no Estado do Rio de Janeiro, havia uma fábrica de tecidos de propriedade de um grupo inglês que mantinha um time de futebol amador, o Pau Grande Esporte Clube. Aos 15 anos, Mané começou a trabalhar na fábrica, e não demorou a treinar no time, mas não teve chance de jogar logo porque, além da sua pouca idade, o técnico Carlos Pinto temia expor o garoto aos fortes zagueiros dos times adversários.
Cansado de não ter uma chance de jogar, Mané registrou-se no time Serrano, da cidade vizinha de Petrópolis e jogou durante quase um ano. Depois disso, o técnico Carlos Pinto decidiu dar uma chance ao Mané e, com sua entrada na ponta direita, o time do Pau Grande cresceu.
Depois de algum tempo, Garrincha foi tentar a sorte em algum clube da capital. Procurou o Flamengo, o Fluminense e o Vasco, mas com suas pernas tortas, não lhe deram atenção.
Garrincha ficou desiludido, até o dia que foi convidado para fazer um teste no Botafogo e encantou a equipe, para surpresa do técnico Gentil Cardoso.Fez parte do melhor time do Botafogo de todos os tempos, que contava com Zagalo, Didi, Amarildo e Nilton Santos, entre outros. Sua melhor jogada era o drible para a direita, o arranque e o cruzamento para a área. Mesmo com uma diferença de 6 cm que separava seus joelhos, sempre levava vantagem sobre o marcador.
Em 1962, quando começou o romance com a cantora Elza Soares, Garrincha já tinha sete filhas com Nair, sua mulher; um casal de filhos com Iraci, sua amante e um filho sueco concebido em junho de 1959. Além destes, teve uma oitava filha com Nair, um filho com Elza e mais uma filha com Vanderléa, sua última mulher, totalizando 13 filhos.
Jogou 60 partidas pela seleção brasileira e encantou a todos em três Copas do Mundo: da Suécia (1958) e do Chile (1962), das quais o Brasil foi campeão, e da Inglaterra (1966). Com Garrincha, o Brasil obteve 52 vitórias e sete empates.
No final da carreira, jogou também no Corinthians, no Flamengo, no Olaria e em outros times brasileiros e estrangeiros. Morreu em decorrência da cirrose hepática, em 1983.
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