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domingo, 29 de março de 2015

Texto-Melhor não deixar o ovo cair / Páscoa

               Melhor não deixar o ovo cair


        “A história da Páscoa é um mito”, dizia o professor de ciências de uma escola a seus alunos, alguns dias antes da Páscoa. “Jesus não saiu do túmulo,” continuou, “mas, primeiramente, não existe nenhum Deus no céu que possa permitir que seu filho seja crucificado.”
“Senhor, eu acredito em Deus”, Jimmy protestou. “E eu acredito que ele ressuscitou!”
“Jimmy, você pode acreditar no que você quiser, é claro,” o professor respondeu. “Porém, no mundo real não existe a possibilidade de tais milagres, como a ressurreição. Ninguém que acredite em milagres pode respeitar a ciência.”
“Deus não é limitado pela ciência,” Jimmy respondeu. “Ele criou a ciência!”
Incomodado com o modo como Jimmy defendia sua fé, o professor propôs um experimento científico. Foi até a geladeira e pegou um ovo de galinha.
“Eu vou deixar este ovo cair no chão,” começou o professor. “A gravidade vai fazer com que ele caia no chão e se despedace. “Olhando fixamente para Jimmy, ele continuou: “Agora, Jimmy, eu quero que você faça uma oração e peça ao seu deus para que quando eu soltar este ovo ele não caia no chão e se quebre. E se ele conseguir fazer isto, você terá provado que Deus existe, e eu terei que admitir isso.”
Após pensar por um momento sobre o desafio, Jimmy lentamente começou sua oração. “Querido Pai celeste,” ele iniciou. “Eu peço que quando o meu professor soltar este ovo … ele caia no chão e se quebre em uma centena de pedaços! E também, Senhor, eu peço que quando este ovo quebrar, meu professor tenha um ataque cardíaco fulminante e morra. Amém.”
Após os cochichos da classe, veio um silêncio fúnebre. Por um momento o professor não fez nada. E por fim ele olhou para o Jimmy e depois para o ovo. E, sem dar uma palavra, ele cuidadosamente devolveu o ovo na geladeira. “A aula acabou” disse o professor enquanto pegava suas coisas.
O professor aparentemente acreditava mais em Deus do que ele mesmo imaginava. Muitas pessoas são como este professor, negam que Deus existe, mas correm para ele nos momentos difíceis. Porém questionam, e o atacam todas as vezes que tem chance. Jimmy sabia que Deus não iria matar o seu professor naquele momento, mas também sabia que seu professor não apostaria sua vida por um ovo.
Quando sua vida está em jogo a ideia de que Deus existe parece fazer mais sentido.


1 – Pense e responda.

a) Qual o verdadeiro sentido da Páscoa?
b) Como costumas comemorar a Páscoa?
c) Qual a mensagem que a história nos deixou?
d) Qual vai ser o seu  compromisso nesta Páscoa?

e) E qual vai ser o seu  gesto concreto nesta Páscoa?


sábado, 28 de março de 2015

Cordel - A Briga na Procissão



 Procissão ou Jesus no Xadrez 






 Imagine se em uma encenação da Paixão de Cristo o centurião metesse o cacete de verdade no cabra que estivesse fazendo o papel de Cristo? Imaginou? Pois é, Cristo mesmo só tem um. Assista o vídeo ,leia o cordel e divirta-se com o desenrolar deste causo, “A briga na procissão”, escrito pelo poeta popular Chico Pedrosa e declamado aqui por Cordel do Fogo Encantado.

 

A BRIGA NA PROCISSÃO

                                 Composição : Chico Pedrosa 

Quando Palmeira das Antas,
Pertencia ao capitão “Justino Bento da Cruz”.
Nunca faltou diversão,
Vaquejada, cantoria, procissão e romaria.
Sexta-feira da paixão.

Na quinta-feira maior, no salão paroquial
Dona Maria das Dores reunia os moradores
Logo após uma pré-seleção ao lado do capitão.
Escalava-se a seleção de atrizes e atores.

O papel de cada um o capitão escolhia.
A roupa e a maquiagem eram com dona Maria.
O resto era discutido, aprovado e resolvido
Na sala da sacristia.

Todo ano tinha um Jesus, um Caifaz e um Pilatus.
Só não mudavam a cruz, o verdugo e os maus tratos.
O Jesus daquele ano, foi o Quincas beija-flor
Caifaz foi o Cipriano, Pilatus foi o Nicanor.

Duas cordas paralelas, separavam
A multidão, para que pudessem entre elas
Caminhar a procissão.
Cristo conduzindo a cruz, foi não foi advertia
Ao centurião perverso que com força lhe batia.
Era pra bater maneiro mas ele não entendia,
Devido ao grande pifão que bebeu naquele dia
Do vinho que o capelão guardava na sacristia.

Cristo dizia: - ô rapaz, vê se bate devagar,
Já to todo encalombado assim não vou agüentar.
Ta com a gota pra doer, ô tu para de bater,
Ô a gente vai brigar, jogo já essa cruz fora,
To ficando revoltado, vou morrer antes da hora
De ficar crucificado.

O pior era que o malvado fingia que não ouvia,
Além de bater com força ainda se divertia,
Espiava pra Jesus, fazia pouco e dizia:
-Que cristo frouxo é você que chora na procissão?
Jesus pelo que se sabe num era mole assim não!
Eu to batendo com pena, tu vai ver o que é bom
Na subida da ladeira da venda de Finelon,
O couro vai ser dobrado, daqui até o mercado
A cuíca muda o som!

Naquele momento, ouviu-se um grito da multidão.
Era Quincas que com raiva sacudiu a cruz no chão,
E partiu feito maluco pra cima de Bastião.
Se travaram no tabefe ponta pé e cabeçada...
Madalena levou queda, Pilatus levou pancada,
Deram um bufete em caifaz que até hoje não faz
Nem sente gosto de nada.

Desmancharam a procissão, o cacete foi pesado,
São Tomé levou um tranco que ficou desacordado,
Acertaram um cocorote na careca de Timote
Que até hoje é aluado.

Até mesmo São José, que não é de confusão,
Na ânsia de defender o filho de criação,
Aproveitou a garapa pra dar um monte de tapa
Na cara do bom ladrão.

A briga só terminou quando o doutor delegado,
Interviu e separou cada santo pro seu lado.
Desde que o mundo se fez, essa foi a primeira vez
Que cristo foi pro xadrez mas não foi crucificado.











A literatura de cordel é uma espécie de poesia popular que é impressa e divulgada em folhetos ilustrados com o processo de xilogravura. Também são utilizados desenhos e clichês zincografados. Ganhou este nome, pois, em Portugal, eram expostos ao povo amarrados em cordões, estendidos em pequenas lojas de mercados populares ou até mesmo nas ruas.

Chegada ao Brasil 

A literatura de cordel chegou ao Brasil no século XVIII, através dos portugueses. Aos poucos, foi se tornando cada vez mais popular. Nos dias de hoje, podemos encontrar este tipo de literatura, principalmente na região Nordeste do Brasil. Ainda são vendidos em lonas ou malas estendidas em feiras populares.

De custo baixo, geralmente estes pequenos livros são vendidos pelos próprios autores. Fazem grande sucesso em estados como Pernambuco, Ceará, Alagoas, Paraíba e Bahia. Este sucesso ocorre em função do preço baixo, do tom humorístico de muitos deles e também por retratarem fatos da vida cotidiana da cidade ou da região. Os principais assuntos retratados nos livretos são: festas, política, secas, disputas, brigas, milagres, vida dos cangaceiros, atos de heroísmo, milagres, morte de personalidades etc.

Em algumas situações, estes poemas são acompanhados de violas e recitados em praças com a presença do público. 

Um dos poetas da literatura de cordel que fez mais sucesso até hoje foi Leandro Gomes de Barros (1865-1918). Acredita-se que ele tenha escrito mais de mil folhetos. Mais recentes, podemos citar os poetas José Alves Sobrinho, Homero do Rego Barros, Patativa do Assaré (Antônio Gonçalves da Silva), Téo Azevedo. Zé Melancia, Zé Vicente, José Pacheco da Rosa, Gonçalo Ferreira da Silva, Chico Traíra, João de Cristo Rei e Ignácio da Catingueira.

Vários escritores nordestinos foram influenciados pela literatura de cordel. Dentre eles, podemos citar: João Cabral de Melo, Ariano Suassuna, José Lins do Rego e Guimarães Rosa. 


 Roteiro 1 - exercícios:

O que é literatura de cordel?
Por que esse nome - cordel?
Enquanto Literatura lembra livros, cordel lembra _________ e também lembra folhetos. Geralmente feitos de folha A4 dobradas onde são escritos poemas e impressas xilogravuras.
O que é xilogravura?
Qual a origem da literatura de cordel?
Em que região do Brasil essas obras são mais divulgadas? Quais os temas recorrentes e quem são os cordelistas mais conhecidos?
Os textos de cordel muitas vezes começam assim: Atenção senhores..., a história que vou contar... Qual a razão?
Quais os principais romancistas que se inspiram/ inspiraram nessa literatura?


2)Montar uma peça teatral com o cordel  PROCISSÃO, mesmo que simples, mas que todos possam participar e trabalhar em equipe.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Leitura de imagens Futebol em Brodósqui- Portinari



Professor, após os alunos observarem a tela e lerem sobre Cândido Portinari, explique-lhes, que conheceram dois tipos de textos diferentes. O primeiro uma obra de arte e, o segundo, uma pequena biografia do artista.
Professor, aproveite este momento caso ainda não tenha falado para explicar o que é uma biografia.
Lembrando que: Biografia é uma descrição ou história da vida de uma pessoa.
Proponha que os alunos façam a interpretação da obra e biografia do artista estudado. Passe na lousa as perguntas ou distribua cópias para que os alunos tenham como registro no caderno de Língua Portuguesa.

Interpretando a obra e a biografia de Cândido Portinari

a)      O que essa pintura representa?
_______________________________________________________
b)      Escreva o nome de duas cores utilizadas pelo artista nessa tela.
____________________________________________________
c)      Qual o título da obra?
___________________________________________________

d)     Do que você mais gostou na pintura?
__________________________________________________

e)      Onde e quando Portinari nasceu?
_________________________________________________

f)       Além de pintar telas, o que mais Portinari fez que o deixou famoso em vários países?
___________________________________________________

Professor, após os alunos responderem as perguntas, faça a correção coletiva e aproveite para esclarecer dúvidas que surgirem sobre o assunto.
Proponha como atividade de CASA que os alunos produzam um texto sobre a tela “Futebol em Brodósqui” de Cândido Portinari. Distribua cópias da tela para que eles tenham como instrumento para a produção do texto.

aula texto 10
Fonte: Imagem da própria autora.

2ª Atividade: Aproximadamente 60 minutos.

Professor, inicie a aula convidando os alunos para lerem suas produções feitas em CASA sobre a tela de Cândido Portinari, estudada na aula anterior. Aproveite este momento para observar o nível do domínio da língua escrita de seus alunos.

Após os alunos lerem suas produções, apresente a história “Os sapos”, retirada do livro “A bruxinha atrapalhada” escrita por Eva Furnari.

Música : Partida de Futebol - Skank



Partida De Futebol

Skank

Bola na trave não altera o placar
Bola na área sem ninguém pra cabecear Bola na rede pra fazer um gol
Quem não sonhou ser um jogador de futebol?
A bandeira no estádio é um estandarte
A flâmula pendurada na parede do quarto
O distintivo na camisa do uniforme
Que coisa linda, é uma partida de futebol
Posso morrer pelo meu time
Se ele perder, que dor, imenso crime
Posso chorar se ele não ganhar
Mas se ele ganha, não adianta
Não há garganta que não pare de berrar
A chuteira veste o pé descalço
O tapete da realeza é verde
Olhando para bola eu vejo o sol
Está rolando agora, é uma partida de futebol
O meio campo é lugar dos craques
Que vão levando o time todo pro ataque
O centroavante, o mais importante
Que emocionante, é uma partida de futebol
O goleiro é um homem de elástico
Só os dois zagueiros tem a chave do cadeado
Os laterais fecham a defesa
Mas que beleza é uma partida de futebol
Bola na trave não altera o placar
Bola na área sem ninguém pra cabecear
Bola na rede pra fazer um gol
Quem não sonhou ser um jogador de futebol?
O meio campo é lugar dos craques
Que vão levando o time todo pro ataque
O centroavante, o mais importante
Que emocionante, é uma partida de futebol


ATIVIDADES

Após ler e cantar a música,peça a turma ,que em pequenos grupos , identifiquem os exemplos de linguagem figurada no texto e expliquem ,por escrito ,o significado de cada um deles.
Se necessário, retome com a turma o conceito de linguagem figurada. Veja o link:
Posso morrer pelo meu time (hipérbole)/ O tapete da realeza é verde (tapete no lugar de gramado)/ Olhando para bola eu vejo o sol (dá à bola o mesmo valor que à estrela central do Sistema SOLAR )/ Que vão levando o time todo pro ataque (metáfora de guerra)/ O meu goleiro é um homem de elástico (que se estica para defender o time)/ Os dois zagueiros tem a chave do cadeado (defendem o time)
Peça que cada grupo apresente oralmente e explique para a turma um dos exemplos de linguagem figurada encontrados na música. Comente as respostas. 
Divida a turma em grupos e sorteie um time de futebol de projeção nacional para cada um. Leve-os à sala de informática e peça que pesquisem na INTERNET e façam uma cópia do Hino do time representado pelo grupo. 
(Se for possível, você também poderá agrupar os alunos de acordo com o time para o qual torcem.)
http://www.clickmusicas.com/hinos-clubes.html
- acesso em 15-12-10 - Hinos de times de futebol.
Solicite que cada grupo analise a linguagem utilizada na letra do hino, levando em conta a presença de emoção e de conotação.
Passe pelos grupos, auxiliando-os na preparação de um texto para ser apresentado ao restante da turma, explicando a letra da música.
 Oriente os grupos a:
Reproduzirem para os colegas o hino a ser analisado;
Anotarem em tópicos os comentários que farão a respeito da  mensagem, da estrutura e da linguagem utilizadas na música;
Definirem como participará cada membro do grupo;
Ensaiarem a apresentação.
PRODUÇÃO TEXTUAL- passar a música “Partida de Futebol” ou “seu hino” para  a modalidade NARRAÇÂO.
Fonte:




Textos sobre futebol / Copa

TEXTO 1:
              FUTEBOL DE RUA





                          Luís Fernando Veríssimo 

Pelada é o futebol de campinho, de terreno baldio. Mas existe um tipo de futebol ainda mais rudimentar do que a pelada. É o futebol de rua. Perto do futebol de rua qualquer pelada é luxo e qualquer terreno baldio é o Maracanã em jogo noturno. Se você é homem, brasileiro e criado em cidade, sabe do que eu estou falando. Futebol de rua é tão humilde que chama pelada de senhora. Não sei se alguém, algum dia, por farra ou nostalgia, botou num papel as regras do futebol de rua. Elas seriam mais ou menos assim: 
DA BOLA – A bola pode ser qualquer coisa remotamente esférica. Até uma bola de futebol serve. No desespero, usa-se qualquer coisa que role, como uma pedra, uma lata vazia ou a merendeira do seu irmão menor, que sairá correndo para se queixar em casa. No caso de se usar uma pedra, lata ou outro objeto contundente, recomenda-se jogar de sapatos. De preferência os novos, do colégio. Quem jogar descalço deve cuidar para chutar sempre com aquela unha do dedão que estava precisando ser aparada mesmo. Também é permitido o uso de frutas ou legumes em vez da bola, recomendando-se nestes casos a laranja, a maça, o chuchu e a pêra. Desaconselha-se o uso de tomates, melancias e, claro, ovos. O abacaxi pode ser utilizado, mas aí ninguém quer ficar no golo. 
DAS GOLEIRAS – As goleiras podem ser feitas com, literalmente, o que estiver à mão. Tijolos, paralelepípedos, camisas emboladas, os livros da escola, a merendeira do seu irmão menor, e até o seu irmão menor, apesar dos seus protestos. Quando o jogo é importante, recomenda-se o uso de latas de lixo. Cheias, para aguentarem o impacto. A distância regulamentar entre uma goleira e outra dependerá de discussão prévia entre os jogadores. Às vezes
esta discussão demora tanto que quando a distância fica acertada está na hora de ir jantar. Lata de lixo virada é meio golo. 
DO CAMPO – O campo pode ser só até o fio da calçada, calçada e rua, calçada, rua e a calçada do outro lado e – nos clássicos – o quarteirão inteiro. O mais comum é jogar-se só no meio da rua. 
DA DURAÇÃO DO JOGO – Até a mãe chamar ou escurecer, o que vier primeiro. Nos jogos noturnos, até alguém da vizinhança ameaçar chamar a polícia.

DA FORMAÇÃO DOS TIMES – O número de jogadores em cada equipe varia, de um a 70 para cada lado. Algumas convenções devem ser respeitadas. Ruim vai para o golo. Perneta joga na ponta, aesquerda ou a direita dependendo da perna que faltar. De óculos é meia-armador, para evitar os choques. Gordo é beque. 
DO JUIZ – Não tem juiz. 
DAS INTERRUPÇÕES – No futebol de rua, a partida só pode ser paralisada numa destas eventualidades:
a) Se a bola for para baixo de um carro estacionado e ninguém conseguir tirá-la. Mande o seu irmão menor.
b) Se a bola entrar por uma janela. Neste caso os jogadores devem esperar não mais de 10 minutos pela devolução voluntária da bola. Se isto não ocorrer, os jogadores devem designar voluntários para bater na porta da casa ou apartamento e solicitar a devolução, primeiro com bons modos e depois com ameaças de depredação. Se o apartamento ou casa for de militar reformado com cachorro, deve-se providenciar outra bola. Se a janela atravessada pela bola estiver com o vidro fechado na ocasião, os dois times devem reunir-se rapidamente para deliberar o que fazer. A alguns quarteirões de distância. 
c) Quando passarem pela calçada: 
1) Pessoas idosas ou com defeitos físicos. 
2)Senhoras grávidas ou com crianças de colo. 
3) Aquele mulherão do 701 que nunca usa sutiã. 
Se o jogo estiver empate em 20 a 20 e quase no fim, esta regra pode ser ignorada e se alguém estiver no caminho do time atacante, azar. Ninguém
mandou invadir o campo. 
d) Quando passarem veículos pesados pela rua. De ônibus para cima. Bicicletas e Volkswagen, por exemplo, podem ser chutados junto com a bola e se entrar é golo. 
DAS SUBSTITUIÇÕES – Só são permitidas substituições: 
a) No caso de um jogador ser carregado para casa pela orelha para fazer a lição. b) Em caso de atropelamento. 
DO INTERVALO PARA DESCANSO – Você deve estar brincando.

DA TÁTICA – Joga-se o futebol de rua mais ou menos como o Futebol de Verdade (que é como, na rua, com reverência, chamam a pelada ), mas com algumas importantes variações. O goleiro só é intocável dentro da sua casa, para onde fugiu gritando por socorro. É permitido entrar na área adversária tabelando com uma Kombi. Se a bola dobrar a esquina é córner.

DAS PENALIDADES – A única falta prevista nas regras do futebol de rua é atirar um adversário dentro do bueiro. É considerada atitude antiesportiva e punida com tiro indireto. 
DA JUSTIÇA ESPORTIVA – Os casos de litígio serão resolvidos no tapa. 
­­­­­­­­­­____________________________________________________________

2) Encontre, no texto, palavras que sejam sinônimas de:
a) Esquema, plano: ____________________________________
b) Castigada: ___________________________
c) Escolher, nomear: ____________________
3) Quais são, segundo o texto, as convenções que devem ser respeitadas quando são formados os times para o futebol de rua? 
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4) Quais são as quatro eventualidades que podem paralisar a partida? 
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5) Quando serão permitidas as substituições? 
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6) Explique o que o autor quis dizer com a frase “DO INTERVALO PARA DESCANSO – Você deve estar brincando.” 
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7) Explique o que significa a expressão “atitude antiesportiva”. (penúltimo parágrafo do texto) 
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8) Qual é a atitude antiesportiva citada no texto? 
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9) “Os casos de litígio serão resolvidos no tapa”. O que significa isso? 
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10) Quando se deve providenciar outra bola? 
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Pós-leitura:
1-      O texto inicia com a seguinte frase: “Não sei se alguém, algum dia, por farra ou nostalgia, botou num papel as regras do futebol de rua.”
a)      Sublinhe, nesta frase, quais são os dois motivos pelos quais, de acordo com o narrador, alguém colocaria as regras do futebol de rua no papel.
b)      Com a ajuda do dicionário, explique o que são esses motivos.
2-      O narrador diz-nos que a bola pode ser qualquer coisa remotamente esférica. Explique, com suas palavras, o significado da palavra sublinhada, relacionando-o com o texto.
3-      Dê exemplos de coisas que podem ser usadas como bola, de acordo com o texto. Escolha um desses objetos e desenhe uma cena em que ele sirva como bola de futebol de rua.
5-      Por que o narrador não recomenda o uso de tomates, melancias e ovos?
6-      Por que ninguém gostaria de ficar no gol se a bola fosse um abacaxi?
7-      Complete as lacunas, indicando o que aconteceria, de acordo com o narrador:
a) Se você usar a merendeira do seu irmão menor, ele.....................................................
b)  Se você usar o seu irmão menor como goleira, ele......................................................
c)  Se você não usar sapatos ao usar como bola um objeto contundente, ......................
......................................................................................................................................
d)  Se você demorar muito para discutir a distância entre uma goleira e outra, ...........
......................................................................................................................................
e)      Se você usar latas de lixo vazias, elas.....................................................................
8-      Quais são os dois fatos que podem fazer com que o jogo acabe?
9-      Por que, em jogos noturnos, os vizinhos podem chamar a polícia?


     Atividade de produção textual:

I)                   Você viu, até aqui, algumas regras do futebol de rua envolvendo a bola, as goleiras, o campo e a duração do jogo. Continue as regras criando:

a)      DA FORMAÇÃO DOS TIMES:
b)      DO JUIZ:
c)      DAS INTERRUPÇÕES:
d)      DAS SUBSTITUIÇÕES:
e)      DO INTERVALO PARA DESCANSO:
f)       DA TÁTICA:
g)      DAS PENALIDADES:
h)      DA JUSTIÇA ESPORTIVA:




TEXTO 2:


        POEMA: "GOL", DE FERREIRA GULLAR.


     Respirando o clima de Copa do Mundo, Literatura se faz em forma de gol, o grande momento desta paixão nacional brasileira. Brilhantemente poetizado pelo Ganhador do PRÊMIOhttp://cdncache1-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png Camões 2010. o escritor Ferreira Gullar nunca se eximiu de seu encantamento pelo esporte bretão e, dedicou um de seus poemas, dentre muito dos quais o futebol se fez fonte, decrevendo a habilidade de Pelé no sublime momento do gol, para delirio e comoção da "pátria das chuteiras", como bem metaforizou Nelson Rodrigues.


"A esfera desce

do espaço

veloz

ele a apara

no peito

e a pára

no ar

depois

com o joelho

a dispõe a meia altura

onde

iluminada

a esfera

espera

o chute que

num relâmpago

a dispara

na direção

do nosso

coração".




É ou não é tão genial quanto um gol de Pelé esse poema?


                
    
texto 3:

              O mistério do futebol 


* Luis Fernando Veríssimo –  Jornalista e escritor


"O prazer de acertar um chute no ângulo da goleira. Qualquer goleira. O que pode se comparar, na experiência humana? Ou na experiência humana de um brasileiro?"

      Começa quando a gente é criança. Quando qualquer coisa - até o corredor da casa - é um campo de futebol e qualquer coisa vagamente esférica é a bola. Se é genético, não se sabe. Um brasileiro criado na selva por chimpanzés, quando se pusesse de pé, começaria a fazer embaixadas com frutas, mesmo sem saber o que estava fazendo? Não se sabe.
    Nenhum prazer que teremos na vida depois, incluindo a primeira transa, se iguala ao prazer da primeira bola de verdade. Autobiografia: sou do tempo da bola de couro com cor de couro. A oficial, número 5. Ganhei a minha primeira com cinco ou seis anos. Ainda me lembro do cheiro. Depois de ganhá-la, você ficava num dilema: levá-la para a calçada e começar a chutá-la, ou preservar o seu couro reluzente?  Uma bola futebol de verdade era uma coisa tão preciosa que se hesitava em estragá-la com o futebol.
   Futebol de calçada. O tamanho dos times variava. De um para cada lado a 14 ou 15 para cada lado.  Duração das partidas: até escurecer ou a vizinhança reclamar, o que acontecesse primeiro.
      Nada interrompia as partidas. Ninguém saía. Joelho ralado, a mãe via depois. Gente passando na calçada que se cuidasse. Só se respeitava velhinha, deficiente físico e, vá lá, grávida. Os outros não estavam livres de ser atropelados. Quem mandara invadir nosso campo?
      Comparado com calçada, terreno baldio era estádio. E terreno baldio com goleiras, então, era Maracanã. As goleiras podiam ser feitas com sarrafos ou galhos de árvore. Não importava, eram goleiras.  Um luxo antes inimaginável.
       O prazer de acertar um chute no ângulo da goleira. Qualquer goleira. O que pode se comparar, na experiência humana? Ou na experiência humana de um brasileiro?   
      Todos estes prazeres passam - com o tempo e as obrigações, com a vida séria, com a barriga -  mas o amor pelo nosso time continua. Confiamos ao nosso time a tarefa de continuar nossa infância por nós. Passamos-lhe a guarda dos nossos prazeres com a bola. A relação com o nosso time é a única das nossas relações infantis que perdura, tão intensa e irracional quanto antes. Ou mais.
      De onde vem isso?  Que tipo de amor é esse? Um mistério. Dizem que no fundo é uma necessidade de guerra. De ter uma bandeira, ser uma nação e arrasar outras nações, nem que seja metaforicamente. Psicologia fácil. Não explica por que a pequena torcida do Atlético Cafundó,  que nunca arrasará ninguém, continua torcendo pelo seu time. Talvez o que a gentame no futebol seja o nosso amor pelo futebol. Isso que nos faz diferentes dos outros, que amam o futebol mas não tanto, não tão brasileiramente.
Ou talvez o que a gente ame seja justamente o mistério.



AGORA É A SUA VEZ!

A 1ª proposta de produção de texto para o grupo de estudo: Escreva uma crônica sobre futebol.Você deverá seguir as seguintes instruções:

 -Escreva o seu texto, a partir de uma situação corriqueira, como um grupo de crianças brincando de futebol na rua,onde uma faz um gol. Você pode ampliar a narrativa construída pelo poeta, acrescentando ao texto outros elementos da narrativa e não se esqueça de que o seu  texto deverá apresentar outra estrutura, já que a proposta é construir uma Crônica Narrativa.

Mantenha a mesma pessoa do discurso (3ª pessoa) e escreva  um texto com, no máximo, 25 linhas.


TEXTO 4:
   Sermão da planície
                    (para não ser escutado)
.
Bem-aventurados os que não entendem nem aspiram a entender de futebol, pois deles é o reino da tranqüilidade.
Bem-aventurados os que, por entenderem de futebol, não se expõem ao risco de assistir às partidas, pois não voltam com decepção ou enfarte.
Bem-aventurados os que não têm paixão clubista, pois não sofrem de janeiro a janeiro, com apenas umas colherinhas de alegria a título de bálsamo, ou nem isto.
Bem-aventurados os que não escalam, pois não terão suas mães agravadas, seu sexo contestado e sua integridade física ameaçada, ao sairem do estádio.
Bem-aventurados os que não são escalados, pois escapam de vaias, preojéteis, contusões, fraturas, e mesmo da glória precária de um dia.
Bem-aventurados os que não são cronistas esportivos, pois não carecem de explicar o inexplicável e racionalizar a loucura.
Bem-aventurados os fotógrafos que trocaram a documentação do esporte pela dos desfiles de modas, pois não precisam gastar tempo infindável para fotografar o relâmpago de um gol.
Bem-aventurados os fabricantes de bolas e chuteiras, que não recebem as primeiras na cara e as segundas na virilha, como os atletas e os assistentes ocasionais de peladas.
Bem-aventurados os que não conseguiram comprar televisão a cores a tempo de acompanhar a Copa do Mundo, pois, assistindo pelo aparelho do vizinho, sofrem sem pagar vinte prestações pelo sofrimento.
Bem-aventurados os surdos, pois não os atinge o estrondar das bombas da vitória, que fabricam outros surdos, nem o matraquear dos locutores, carentes de exorcismo.
Bem-aventurados os que não moram em ruas de torcida institucionalizada, ou em suas imediações, pois só recolhem cinqüenta por cento do barulho preparatório ou comemoratório.
Bem-aventurados os cegos, pois lhes é poupado torturar-se com o espetáculo direto ou televisionado da marcação cerrada, que paralisa os campeões, ou do lance imprevisível, que lhes destrói a invencibilidade.
Bem-aventurados os que nasceram, viveram e se foram antes de 1863, quando se codificaram as leis do futebol, pois escaparam dos tormentos da torcida, inclusive dos ataques cardíacos infligidos tanto pela derrota como pela vitória do time bem-amado.
Bem-aventurados os que, entre a bola e o botão, se contentam com este, principalmente em camisa, pois se consolam mais facilmente de perder o botão da roupa do que o bicho da vitória.
Bem-aventurados os que, na hora da partida internacional, conseguem ouvir a sonata de Albinoni, pois destes é o reino dos céus.
Bem-aventurados os que não confundem a derrota do time da Lapônia pelo time da Terra do Fogo com a vitória nacional da Terra do Fogo sobre a Lapônia, pois a estes não visita o sentimento de guerra.
Bem-aventurados os que, depois de escutar este sermão, aplicarem todo o ardor infantil no peito maduro para desejar a vitória do selecionado brasileiro nesta e em todas as futuras Copas do Mundo, como faz o velho sermoneiro desencantado, mas torcedor assim mesmo, pois para o diabo vá a razão quando o futebol invade o coração.
.
Carlos Drummond de Andrade


TEXTO 5:
                   O Juiz Ladrão (por Nelson Rodrigues)


       De vez em quando, eu esbarro num saudosista. É um sujeito esplêndido, que vive enfiado no passado. Direi mais: — vive feliz e realizado no passado como um peixinho num aquário de sala de visitas. E convenhamos que isto é bonito, é lindo. Outro dia, um deles atracou-se comigo no meio da rua; arrastou-me para o fundo de um café, e, lá, com o olho rútilo e o lábio trêmulo, pôs-se a falar de Marcos de Mendonça, o “Fitinha Roxa”; da “espanhola”; do assassinato de Pinheiro Machado e do campeonato que o Botafogo tirou em 1910. Mas, nos vinte minutos da conversa retrospectiva, já lhe pendia do beiço uma grossa, uma espuma bovina, uma baba elástica. De mim para mim, compreendi essa nostalgia, louvei essa fidelidade ao passado. Amigos, eis uma verdade eterna: — o passado sempre tem razão.

       Por exemplo: — o futebol antigo. Era, a meu ver, um fenômeno vital muito mais rico, complexo e intrincado. Hoje, os jogadores, os juizes e os bandeirinhas se parecem entre si como soldadinhos de chumbo. Não encontramos, em ninguém, uma dessemelhança forte, crespa e taxativa. Não há um craque, um árbitro ou um bandeirinha que se imponha como um símbolo humano definitivo. Outrora havia o “juiz ladrão”. E hoje? Hoje, os juizes são de uma chata, monótona e alvar honestidade. Abra-hão Lincoln não seria mais íntegro do que Mário Vianna. E vamos e venhamos: — a virtude pode ser muito bonita, mas exala um tédio homicida e, além disso, causa as úlceras imortais. Não acredito em honestidade sem acidez, sem dieta e sem úlcera.

       Mas ponha-se um árbitro insubornável diante de um vigarista. E verificaremos isto: — falta ao virtuoso a feérica, a irisada, a multicolorida variedade do vigarista. O profissionalismo torna inexeqüível o juiz ladrão. E é pena. Porque seu desaparecimento é um desfalque lírico, um desfalque dramático para os jogos modernos. Vejam vocês que coisa melancólica e deprimente: — um jogo de futebol tem 22 homens. Com o juiz e os bandeirinhas, 25. Acrescentem-se os gandulas e já teremos um total de 29. Vinte e nove homens e nem um único e escasso canalha, nem um único e escasso vigarista! Eis a verdade, que levaria um Balzac ao desespero e à úlcera: — as condições do futebol contemporâneo tornam impraticável a existência do canalha. Ou por outra: — o canalha pode existir, mas contido, frustrado, inédito, sem função e sem destino.

      Mas em 1918, 17 ou 16, os gatunos constituíam uma briosa fauna, uma luxuriante flora. Evidentemente, havia as exceções. Mas os salafrários podiam apitar as partidas e com que glorioso, com que genial descaro! Certa vez, foi até interessante: — existia um juiz que era um canalha em estado de pureza, de graça, de autenticidade. Um domingo, ele vai apitar um jogo decisivo. Que fazem os adversários? Tentam suborná-lo. Ora, o canalha é sempre um cordial, um ameno, um amorável. E o homem optou pela solução mais equânime: — levou bola dos dois lados. Justiça se lhe faça: — roubou da maneira mais desenfreada e imparcial os dois quadros. Ao soar o apito final, os 22 jogadores partiram para cima do ladrão. Mas o gângster já se antecipara, já estava pulando muros e galinheiros. Era uma figurinha elástica, acrobática e alada. Isto foi em 1917. O juiz gatuno está correndo até hoje.




TEXTO 6:

               Descoberta de Garrincha

                                                         por Nelson Rodrigues

         E eis que, pela primeira vez, um “seu” Manuel é o meu personagem da semana. Com esse nome cordial e   alegre de anedota, ele tomou conta da cidade, do Brasil e, mais do que isso, da Europa. Creiam, amigos: o jogo Brasil x Rússia* acabou nos três minutos iniciais. Insisto: nos primeiros três minutos da batalha, já o “seu” Manuel, já o Garrincha, tinha derrotado a colossal Rússia, com a Sibéria e tudo o mais. E notem: bastava ao Brasil um empate. Mas o meu personagem não acredita em empate e se disparou pelo campo adversário, como um tiro. Foi driblando um, driblando outro e consta inclusive que, na sua penetração fantástica, driblou até as barbas de Rasputin.

      Amigos: a desintegração da defesa russa começou exatamente na primeira vez em que Garrincha tocou na bola. Eu imagino o espanto imenso dos russos diante desse garoto de pernas tortas, que vinha subverter todas as concepções do futebol europeu. Como marcar o imarcável? Como apalpar o impalpável? Na sua indignação impotente, o adversário olhava Garrincha, as pernas tortas de Garrincha e concluía: — “Isso não existe!”. E eu, como os russos, já me inclino a acreditar que, de fato, domingo Garrincha não existiu. Foi para o público internacional uma experiência inédita. Realmente, jamais se viu, num jogo de tamanha responsabilidade, um time, ou melhor, um jogador começar a partida com um baile. Repito: — baile, sim, baile! E o que dramatiza o fato é que foi baile não contra um perna-de-pau, mas contra o time poderosíssimo da Rússia.
Só um Garrincha poderia fazer isso. Porque Garrincha não acredita em ninguém e só acredita em si mesmo. Se tivesse jogado contra a Inglaterra, ele não teria dado a menor pelota para a rainha Vitória, o lord Nelson e a tradição naval do adversário. Absolutamente. Para ele, Pau Grande, que é a terra onde nasceu, vale mais do que toda a Comunidade Britânica. Com esse estado de alma, plantou-se na sua ponta para enfrentar os russos. Os outros brasileiros poderiam tremer. Ele não e jamais. Perante a plateia internacional, era quase um menino. Tinha essa humilhante sanidade mental do garoto que caça cambaxirra com espingarda de chumbo e que, em Pau Grande, na sua cordialidade indiscriminada, cumprimenta até cachorro. Antes de começar o jogo, o seu marcador havia de olhá-lo e comentar para si mesmo, em russo: “Esse não dá pra saída!”. E, com dois minutos e meio, tínhamos enfiado na Rússia duas bolas na trave e um gol. Aqui, em toda a extensão do território nacional, começávamos a desconfiar que é bom, que é gostoso ser brasileiro.
Está claro que não estou subestimando o peito dos outros jogadores brasileiros. Deus me livre. Por exemplo: cada gol de Vavá era um hino nacional. Na defesa, Bellini chutava até a bola. E quando, no segundo tempo, Garrincha resolveu caprichar no baile, foi um carnaval sublime. A coisa virou show de Grande Otelo. E tem razão um amigo que, ouvindo o rádio, ao meu lado, sopra-me: “Isso que o Garrincha está fazendo é pior do que xingar a mãe!”. Calculo que, a essa altura, as cinzas do czar haviam de estar humilhadíssimas. O marcador do “seu” Manuel já não era um: eram três. E, então, começou a se ouvir, aqui no Brasil, na praça da Bandeira, a gargalhada cósmica, tremenda, do público sueco. Cada vez que Garrincha passava por um, o público vinha abaixo. Mas não creiam que ele fizesse isso por mal. De modo algum. Garrincha estava ali com a mesma boa-fé inefável com que, em Pau Grande, vai chumbando as cambaxirras, os pardais. Via nos russos a inocência dos passarinhos. Sim: os adversários eram outros tantos passarinhos, desterrados de Pau Grande.
Calculo que, lá pelas tantas, os russos, na sua raiva obtusa e inofensiva, haviam de imaginar que o único meio de destruir Garrincha era caçá-lo a pauladas. De fato, domingo, só a pauladas e talvez nem isso, amigos, talvez nem assim.
* Brasil 2 x 0 União Soviética, 15/6/1958, em Gotemburgo (Suécia)



 TEXTO 7:

              Armando Nogueira, futebol e eu, coitada


                                                                              por Clarice Lispector
                                                                             Jornal do Brasil, 30.03.1968

         E o título sairia muito maior, só que não caberia numa única linha. Não leio todos os dias Armando Nogueira – embora todos os dias dê pelo menos uma espiada rápida – porque “meu futebol” não dá para entender tudo. Se bem que Armando escreve tão bonito (não digo apenas “bem”), que às vezes, atrapalhada com a parte técnica de sua crônica, leio só pelo bonito. E deve ser numa das crônicas que me escaparam que saiu uma frase citada pelo Correio da Manhã, entre frases de Robert Kennedy, Fernandel, Arthur Schlesinger, Geraldine Chaplin, Tristão de Athayde e vários outros, e que me leram, por telefone. Armando dizia: “De bom grado eu trocaria a vitória de meu time num grande jogo por uma crônica...” e aí vem o surpreendente: continua dizendo que trocaria tudo isso por uma crônica minha sobre futebol.

     Meu primeiro impulso foi o de uma vingança carinhosa: dizer aqui que trocaria muita coisa que me vale muito por uma crônica de Armando Nogueira sobre, digamos, a vida. Aliás, meu primeiro impulso, já sem vingança, continua: desafio você, Armando Nogueira, a perder o pudor e escrever sobre a vida e você mesmo, o que significaria a mesma coisa.

     Mas, se seu time é Botafogo, não posso perdoar que você trocasse, mesmo por brincadeira, uma vitória dele nem por um meu romance inteiro sobre futebol.

    Deixe eu lhe contar minhas relações com futebol, que justificam o coitada do título. Sou Botafogo, o que já começa por ser um pequeno drama que não torno maior porque sempre procuro reter, como as rédeas de um cavalo, minha tendência ao excessivo. É o seguinte: não me é fácil tomar partido em futebol – mas como poderia eu me isentar a tal ponto da vida do Brasil? – porque tenho um filho Botafogo e outro Flamengo. E sinto que estou traindo o filho Flamengo. Embora a culpa não seja toda minha, e aí vem uma queixa contra meu filho: ele também era Botafogo, e sem mais nem menos, talvez só para agradar o pai, resolveu um dia passar para o Flamengo. Já então era tarde demais para eu resolver, mesmo com esforço, não ser de nenhum partido: eu tinha me dado toda ao Botafogo, inclusive dado a ele minha ignorância apaixonada por futebol. Digo “ignorância apaixonada” porque sinto que eu poderia vir um dia apaixonadamente a entender de futebol.

     E agora vou contar o pior: fora as vezes que vi por televisão, só assisti a um jogo de futebol na vida, quero dizer, de corpo presente. Sinto que isso é tão errado como se eu fosse uma brasileira errada.

   O jogo qual era? Sei que era Botafogo, mas não me lembro contra quem. Quem estava comigo não despregava os olhos do campo, como eu, mas entendia tudo. E eu de vez em quando, mesmo sentindo que estava incomodando, não me continha e fazia perguntas. As quais eram respondidas com a maior pressa e resumo para eu não continuar a interromper.

   Não, não imagine que vou dizer que futebol é um verdadeiro balé. Lembrou-me foi uma luta entre vida e morte, como de gladiadores. E eu – provavelmente coitada de novo – tinha a impressão de que a luta só não saía das regras do jogo e se tornava sangrenta porque um juiz vigiava, não deixava, e mandaria para fora de campo quem como eu faria, se jogasse (!). Bem, por mais amor que eu tivesse por futebol, jamais me ocorreria jogar...Ia preferir balé mesmo. Mas futebol parecer-se com balé? O futebol tem uma beleza própria dos movimentos que não precisa de comparações.

   Quanto a assistir por televisão, meu filho botafoguense assiste comigo. E quando faço perguntas, provavelmente bem tolas como leiga que sou, ele responde com uma mistura de impaciência piedosa que se transforma depois em paciência quase mal controlada, e alguma ternura pela mãe que, se sabe outras coisas, é obrigada a valer-se do filho para essas lições. Também ele responde bem rápido, para não perder os lances do jogo. E se continuo de vez em quando a perguntar, termina dizendo embora sem cólera: ah, mamãe, você não entende mesmo disso, não adianta.

   O que me humilha. Então, na minha avidez por participar de tudo, logo de futebol que é Brasil, eu não vou entender jamais? E quando penso em tudo no que não participo, Brasil ou não, fico desanimada com minha pequenez. Sou muito ambiciosa e voraz para admitir com tranqüilidade uma não participação do que representa vida. Mas sinto que não desisti. Quanto a futebol, um dia entenderei mais. Nem que seja, se eu viver até lá, quando eu for velhinha e já andando devagar. Ou você acha que não vale a pena ser uma velhinha dessas modernas que tantas vezes, por puro preconceito imperdoável nosso, chega à beira do ridículo por se interessar pelo que já devia ser um passado? É que, e não só em futebol, porém em muitas coisas mais, eu não queria só ter um passado: queria sempre estar tendo um presente, e alguma partezinha do futuro.

   E agora repito meu desafio amigável: escreva sobre a vida, o que significaria você na vida. (Se não fosse cronista de futebol, você de qualquer modo seria escritor.) Não importa que, nessa coluna que peço, você inicie pela porta do futebol: facilitaria você quebrar o pudor de falar diretamente. E mais, para facilitar: deixo você escrever uma crônica inteira sobre o que o futebol significa para você, pessoalmente, e não só como esporte, o que terminaria revelando o que você sente em relação à vida.

    O tema é geral demais, para quem está habituado a uma especialização? Mas é que me parece que você não conhece suas próprias habilidades: seu modo de escrever me garante que você poderia escrever sobre inúmeras coisas. Avise-me quando você resolver responder a meu desafio, pois, como lhe disse, não é todos os dias que leio você, apesar de ter um verdadeiro gosto em ser sua colega no mesmo jornal. Estou esperando.







TEXTO 8:
BIOGRAFIA: Garrincha


    Garrincha marcou seu nome na história do futebol brasileiro com o apelido de "alegria do povo". Foi o legítimo representante do futebol-arte brasileiro, com seu estilo original de jogar, com seus dribles abusados e com suas jogadas divertidas.

    Manoel Francisco dos Santos, o "Mané", pertencia a uma família pobre de 15 irmãos. O apelido Garrincha veio de um tipo de pássaro, comum na região serrana, que Mané gostava de caçar com seu bodoque.

      Na cidade onde nasceu, no Estado do 
Rio de Janeiro, havia uma fábrica de tecidos de propriedade de um grupo inglês que mantinha um time de futebol amador, o Pau Grande Esporte Clube. Aos 15 anos, Mané começou a trabalhar na fábrica, e não demorou a treinar no time, mas não teve chance de jogar logo porque, além da sua pouca idade, o técnico Carlos Pinto temia expor o garoto aos fortes zagueiros dos times adversários.

     Cansado de não ter uma chance de jogar, Mané registrou-se no time Serrano, da cidade vizinha de Petrópolis e jogou durante quase um ano. Depois disso, o técnico Carlos Pinto decidiu dar uma chance ao Mané e, com sua entrada na ponta direita, o time do Pau Grande cresceu.

      Depois de algum tempo, Garrincha foi tentar a sorte em algum clube da capital. Procurou o Flamengo, o Fluminense e o Vasco, mas com suas pernas tortas, não lhe deram atenção.

      Garrincha ficou desiludido, até o dia que foi convidado para fazer um teste no Botafogo e encantou a equipe, para surpresa do técnico Gentil Cardoso.Fez parte do melhor time do Botafogo de todos os tempos, que contava com
Zagalo,  Didi, Amarildo e Nilton Santos, entre outros. Sua melhor jogada era o drible para a direita, o arranque e o cruzamento para a área. Mesmo com uma diferença de 6 cm que separava seus joelhos, sempre levava vantagem sobre o marcador.

      Em 1962, quando começou o romance com a cantora Elza Soares, Garrincha já tinha sete filhas com Nair, sua mulher; um casal de filhos com Iraci, sua amante e um filho sueco concebido em junho de 1959. Além destes, teve uma oitava filha com Nair, um filho com Elza e mais uma filha com Vanderléa, sua última mulher, totalizando 13 filhos.

    Jogou 60 partidas pela seleção brasileira e encantou a todos em três Copas do Mundo: da 
Suécia (1958) e do Chile (1962), das quais o Brasil foi campeão, e da Inglaterra (1966). Com Garrincha, o Brasil obteve 52 vitórias e sete empates.

    No final da carreira, jogou também no Corinthians, no Flamengo, no Olaria e em outros times brasileiros e estrangeiros. Morreu em decorrência da cirrose hepática, em 1983.